Ser jornalista é ser cidadão

 

 por Caliana Mesquita 

 jornalistas

As notícias são criadas pelos jornalistas, que buscam recolher informações e transformá-las em assuntos interessantes para seu público. O trágico, por chamar atenção do cidadão, atrai os veículos de comunicação por estes saberem do poder que a barbárie provoca na audiência das programações.

 

Exagerar as emoções, expor a intimidade do cotidiano, explorar o macabro, pitoresco são noticias que a cada dia ocupam mais espaço nas televisões brasileiras. Programas como Alerta Total ( Record), Brasil Urgente ( Band), Linha Direta ( Globo), Repórter Cidadão e A Tarde é Sua ( Rede TV), usam do sensacional, do grotesco, abusam do comodismo do público para encherem as programações de sangue e violência. Mas o povo gosta? Se não gostasse não haveria tantos programas desta natureza disputando espaço nos televisores das famílias brasileiras.

Nesta constante briga pela notícia, que mais fascine o público, jornalistas não procuram mais informar pelo simples fato de esclarecer, mas sim pela necessidade de estarem a frente da concorrência. Neste ritmo, quanto mais violência conter nos noticiários mais audiência terá e conseqüentemente mais publicidade e mais dinheiro para as empresas de comunicação. Os jornalistas estão vendendo a própria figura humana, e como se não bastasse a consciência dela.

 

Quando a comunicação é usada para fins únicos de se obter audiência, exclui- se valores éticos e humanitários, e surgem ações de desacordo com a moral pública e desastres sociais na mudança de hábitos culturais e no favorecimento do ego de criminosos, que são expostos em programas televisivos ou nas primeiras páginas dos jornais como verdadeiras celebridades do crime.

 

 

O jornalista sabe que jornalismo é feito em cima de notícia, em cima de fatos, ou melhor, de fatos que viram notícia. A função de informar é uma tarefa que afeta uma sociedade. A criminalidade por fazer parte da vida social, recebe diariamente à atenção dos jornais, telejornais e programas de TV do país. Mas noticiar algo que já é corriqueiro não atrai audiência.

 

Nos anos 80 e 90, o jornalismo passou a utilizar criminosos do mais alto escalão do tráfico como fonte de audiência. Fernandinho Beiramar, Marcola e Bem-te-vi, ganharam as capas dos mais conceituados jornais e seus nomes eram constantemente mencionados nos noticiários da TV. Certo que as narrativas apresentavam os sangrentos currículos dos criminosos. Mas para a lógica do crime quanto mais pavoroso for o seu perfil criminal, mais ibope eles terão em suas comunidades. Como comentou a inspetora da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Maria Maggessi ao escritor Silva Ramos em seu livro “Mídia e Violência” em 2007. “Fazer uma capa com um bandido com cara de capeta e botar ‘ este é o pior bandido do mundo, mais carniceiro’, é um puto de um ibope. Só serve para aumentar a auto-estima deles”, disse a inspetora relacionando essa audiência ao estímulo provocado nos meninos do morro, que crescem tendo os “chefes do tráfico” como ponto de referência, como os heróis que pretendem ser quando crescerem, temidos e respeitados por todos.

 

A atitude de divulgar um criminoso deve ser tratada pelo jornalista com cautela e responsabilidade. Ao invés de mostrar o bandido como um infrator social e chamar à atenção para os crimes praticados por ele, os adjetivos atribuídos pelo jornalista podem transformar o bandido em liderança e exemplo de como se deve praticar um crime.O jornalista deve ser ético com seu público, informá-lo e esclarecê-lo sempre, mas a comunicação possui um valioso instrumento que pode ser usado para o bem ou para o mal, e na ausência de controles adequados a última possibilidade apresenta-se como a mais provável.

 

A comunicação direciona a sociedade. O jornalismo pauta os assuntos e as ações dos indivíduos. Divulgar o criminoso, o vulgar e o banal como fatos importantes e de relevância nos veículos de comunicação, de fato favorece ao fortalecimento destes atos. Pessoas são motivadas pelo espetáculo do crime, do banal e do vulgar apresentados pelo circo que se tornou o jornalismo brasileiro.

 

Portanto, apesar do mundo viver na era do imediatismo, da concorrência pela exclusividade, fruto da globalização, é fundamental que a profissão, a qual representa O Quarto Poder da sociedade, não se converta ao interesses comerciais. O jornalista que conhece a essência da profissão, não constrói uma notícia em cima da dor, do sofrimento do outro, pelo mero prazer de atrair a audiência.

 

Um bom profissional da comunicação é aquele que mesmo diante de uma reportagem que o projete para o mundo, consegue pensar no ser humano, nas conseqüências que uma informação pode provocar na sociedade. As leis brasileiras, presentes no Código de Ética do jornalista, expressam o compromisso com a verdade dos fatos, razão pela qual ele deve pautar seu trabalho pela sua apuração e correta divulgação. Pois para representar uma sociedade, não basta conhecer teorias e conceitos acadêmicos, os quais te fornecem base e argumentos para a técnica da comunicação. É preciso ir além, aprender a ser cidadão comprometido e responsável em ser os olhos, a boca e os ouvidos da sociedade.